Carmen morreu sábado (09) aos 82 anos, em sua casa em Madri, na Espanha, mas o seu corpo ficou deitado na cama 34 horas, à espera que o óbito fosse declarado. A família deixou as janelas abertas para o corpo se conservar com o frio, durante a tempestade Filomena, enquanto ligou uma dezena de vezes para o 112.
Só no dia seguinte à noite é que o seu óbito foi finalmente declarado pelo médico para poder ser retirado de casa e ir a enterrar.
“Para conservar a minha mãe, não ligamos o aquecimento… Imagine, com o frio que está. Ela continua no seu quarto, tombada com o seu roupão, com as janelas abertas. E nós a velá-la, gelados, na sala “, contou o filho Gustavo.
À partida repentina e inesperada da mãe durante o banho, quando pouco antes parecia bem, seguiu-se um rol de acontecimentos inusitados que mais lhe pareceram “um pesadelo”. O corpo de Carmen permaneceu na sua cama por 34 horas, conservando-se graças à brisa gelada da tempestade que assolava a região.
Numa tentativa desesperada pelo levantamento do corpo da casa, o filho de Carmen chegou a contatar uma funerária para ver se “nesta situação extraordinária podiam adotar uma solução extraordinária”. Os agentes funerários acudiram à casa, mas foram embora de mãos vazias 30 minutos depois, sem autorização do Summa 112 para que o corpo fosse levantado e o óbito declarado posteriormente.
A “descoordenação absoluta” do serviço, que a cada chamada dava uma resposta diferente, deixou a família em desespero, segundo Gustavo. Ao final do dia de sábado, conta que lhe foi pedido que não telefonasse mais. “O coordenador tinha dito que os mortos em casa já não eram uma urgência”, recorda Gustavo.
Contudo, o que mais aborreceu Gustavo e a mulher Ana foi a resposta logo às 12.30 horas de sábado. “Perguntei-lhes se não havia um médico em toda Parla que pudesse atestar a morte. Responderam que sim, mas que não tinham acesso à nossa casa por causa da neve. A polícia local, à qual tínhamos ligado antes, tinha viaturas preparadas e ofereceu-nos a possibilidade de transportar um médico caso encontrássemos algum. Quando propus essa solução [ao 112], desligaram”, recordou Ana, indignada.
O óbito de Carmen só foi declarado as 21h30 de domingo (10).
De acordo com o Summa 112, o serviço atendeu mais de 8.900 chamadas de urgência desde sábado, tendo mobilizado recursos para os casos prioritários, como de pessoas com acidentes vasculares cerebrais, paradas cardiorrespiratórias ou de mulheres para dar à luz.
“O que não se pôde fazer no sábado foi acudir a todas as casas a certificar as mortes por causas naturais por doença prolongada, como é o caso que aqui se apresenta, do mesmo modo que também não puderam responder às funerárias”, disse fonte daquele organismo.
No domingo, “foi feito um grande esforço” para que os médicos pudessem chegar às casas dos óbitos pendentes, nomeadamente a pé, para a sua certificação, segundo o Summa 112.