Segundo psicóloga, iniciativa ajuda a ressignificar a dor da perda e entender a finitude da vida
Lidar com duas perdas repentinas não foi fácil para o cirurgião-dentista José Tinôco, de 38 anos. O potiguar viu o pai e a tia partirem no mesmo dia. Ele de linfoma e ela de Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Foi em 18 de abril de 2020. A diferença foi de poucas horas. Uma coincidência muito grande. Momento de muita dor”, relembra.
A experiência vivenciada por José é semelhante com a da nutricionista Elizângela Costa, de 41 anos. “Passei por dois grandes traumas em minha vida. O primeiro em dezembro de 2017, quando perdi o meu pai, e em dezembro de 2018, quando perdi o meu noivo”, conta.
Já a administradora Jéssica Medeiros, de 28 anos, perdeu o filho há oito meses, 10 horas depois do parto prematuro. “Pedro Lucas era o meu primeiro filho. Era a minha primeira gravidez. Nasceu com 29 semanas, foi direto para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva], mas não resistiu. Me vi sem chão”, emociona-se.
Assim como muitos outros potiguares, José, Elizângela e Jéssica têm buscado apoio em grupos de enfrentamento ao luto. “Confesso que tem me ajudado a viver de uma forma mais positiva, principalmente quando estamos perto de datas comemorativas mais especiais”, afirma o cirurgião-dentista. “Tem feito com que nossos traumas sejam suavizados, tem transformado nossos sentimentos em uma saudade boa, e mostrado que podemos viver nosso luto um dia de cada vez. Cada pessoa tem o seu momento para superá-lo”, pontua a nutricionista.
Para Jéssica, o grupo de escuta tem se mostrado uma rede de apoio muito maior do que ela imaginava que seria. “Não estou só. Outras pessoas estão passando pelo mesmo processo que eu e a gente pode se reconstruir através da dor. É com a ajuda dessas pessoas, do meu esposo e da minha família que eu tenho conseguido seguir em frente”, frisa.
Neste período de pandemia, o serviço de grupos de enfrentamento ao luto passou a ser oferecido ou intensificado por diversas empresas. É o caso do cemitério e crematório Morada da Paz, no Rio Grande do Norte, que criou o projeto Chá da Saudade em 2016. Uma vez por mês e de forma gratuita, a empresa realiza o encontro como forma de acolher, escutar e orientar os clientes a passar por esse processo de forma mais leve. “Esse tipo de iniciativa é uma ótima saída para ressignificar a dor da perda, aprender mais sobre o tema e sobre a finitude da vida”, explica a psicóloga do Luto do Morada da Paz, Rafaela Barros.
“Além da escuta, utilizamos textos, músicas, imagens, como possibilidade de expressão dos sentimentos. Mas antes de ser inserido no grupo, o participante tem a oportunidade do atendimento individual, para conversarmos e entendermos a história de vida, a perda do ente querido e o seu vínculo”, acrescenta a especialista.
Inscrições
Por conta do distanciamento social, os encontros do Chá da Saudade são feitos por videoconferência. As inscrições podem ser feitas presencialmente no Morada da Paz Emaús ou no link: https://www.moradadapaz.com.br/cha-da-saudade/. Após a inscrição, é realizada uma triagem pelo Serviço de Psicologia do Luto para verificar se o mais recomendado é que o cliente participe dos encontros ou seja encaminhado para uma psicoterapia.
Fonte: Ideia Comunicação