Vida de Funerário

O pior quer voltar.

Nosso setor depois de um crescimento evidente está novamente sob ataque, mesmo depois de investimentos contínuos e um aperfeiçoamento determinante, o pior volta a ter força e querer se impor, a teoria de “quanto pior melhor”, parece ter renascido das cinzas e nossa categoria foi invadida por indivíduos , que estão tomando espaços, se beneficiando, não só de políticas e conceitos arcaicos e equivocados que o setor público utiliza, mas também de “brechas” que deixamos, afinal, não tem como não fazer o mea-culpa pela situação atual, não prevemos algumas situações, agora para consertar vai dar muito trabalho.

Deu cupim em quase tudo:

1- Licitações

Temos inúmeras Licitações desprezando a verdadeira e comprovada capacidade técnica das funerárias, que atuam a dezenas de anos, com esmero e investimentos contínuos.

Licitações ignorando a idoneidade e a qualificação dos prestadores (diretores funerários), bem como, o afeto e relacionamento por estes pavimentado no seio das famílias,

Licitações que não consideram o valor que a relação de confiança tem para aqueles que necessitam de uma assistência funerária,

Certames realizados com a caneta fria de interesses políticos eleitoreiros, tem premiado exclusivamente aqueles indivíduos que oferecem o menor preço, mesmo sendo a pior opção no contexto geral, este critério (menor preço), tem sido em muitos casos o único e nefasto parâmetro, adotado pelas prefeituras na definição do Diretor Funerário/Empresa, que irá prestar, com exclusividade e sem concorrência, uma das mais importantes atividade do município: O serviço Funerário.

‎Os alcaide-mor não percebe que separar a figura do Diretor Funerário da figura da Empresa Funerária, que buscar apenas o elemento menor preço, é uma decisão que caminha no sentido contrário, do desejo e necessidade da população. Estão escolhendo empresas e desprezando o perfil e a qualidade do profissional, tirando do setor a capacidade de investir e obrigando as empresas de plano, quando presente no município, a arcar com o prejuízo desta matemática, 2+2 não pode dar zero.
Triste realidade.

2. ‎Associações de papel.

Não é de hoje que pessoas se utilizam de entidades de papel, sem representatividade nem legitimidade, para se beneficiarem, de forma indevida. No nosso setor temos:

A) Pessoas que dela se utilizam para negociar vantagens com a as seguradoras, possuem uma funeraria de fachada, mas na realidade ganham dinheiro como plataforma

B) Indivíduos que depois de fracassar como diretor Funerario ou fornecedor, inventam siglas espelho ou de subsegmentos da atividade, para permanecer no setor e se agarrar, em quem perto chegar, para no fundo do mar levar.

C) Elementos que dela fazem uso, para de qualquer forma e a qualquer custo, aparecer na foto.

Não importa o motivo, fato é que algumas das siglas hoje existentes nada representam, contudo é reconhecida a habilidade de seus diretores com a internet, nela lançam “opiniões duvidosas” para retardar processos que possam prejudicar seus interesses pessoais.

3-Consultores bomba.

Consultor é um elemento de grande valia em qualquer empresa, quando habilitado e com credencial para seu importante papel, agora, se auto intitular de Consultor e sair espalhando conceitos, regras, fórmulas e padrões operacionais, sem o mínimo de conhecimento nem experiência comprovada, isto tem o efeito de um homem bomba em qualquer organização, é um risco enorme abrir as informações sigilosas de uma operação para um Consultor bomba, e tem muitos deles andando pelas funerárias, alguns são até convidados para eventos, organizados por pessoas com o mesmo compromisso para com o setor, nenhum.
A única coisa que podemos falar com certeza de um Consultor bomba é que, uma hora ele vai explodir, explodir dentro da sua empresa, com você lá.

4- Síndrome do avental branco.

Assim como tem aqueles que melhoraram um pouco seu padrão de vida e já estão se achando o máximo, que subiram em uma tampinha de garrafa e já estão com vertigem de altura, temos no setor funerário os que sofrem da síndrome do avental branco. Aprenderam o básico de tanatopraxia, mas foram pra Capital e compraram um avental branco na 25 de março, foi o que bastou, saíram de lá já se intitulando de professor, dão aula, organizam cursos, até emitem diplomas, tudo aplaudido por pessoas, que acham maravilhoso, ter alguém que faça o que ela quer, assim podem deixar de fazer o que precisa ser feito, o certo dá trabalho e custa, o errado é sempre um caminho mais fácil, infelizmente não são poucos os que foram contaminados pela síndrome do avental branco, nem os que os aceitam, muitos destes fantasmas agem com a chancela de entidades de papel, o que faz desta situação algo ainda mais preocupante, para o futuro da tanatopraxia no Brasil.

5-Fiscalização cega.

Justiça deve ser cega e punir o comprovadamente culpado, agora da fiscalização esperamos uma ação de olhos bem abertos. Como podem os responsáveis pelo controle do setor funerário, permitirem que algumas empresas atuem de forma tão livre e irregular, distantes da ética e sem serem molestadas.

Nem de Controladores do caos estes podem ser chamados, o mais correto é defini-los como promotores da desordem. O setor precisa que os órgãos fiscalizadores atuem, para que os profissionais corretos não sejam prejudicados, por uma concorrência desleal, onde quem mais tem serviço é aquele que paga a maior propina, ou tem o maior número de “avisantes” nos hospitais.

Especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, os hospitais referências e particulares, foram tomados de assalto por uma rede de agenciamento, todo mundo ganha, só a sociedade e a ética perdem. O absurdo é tão grande que no Rio os espaços para agenciamento são negociados pelos diretores dos hospitais, em São Paulo, o serviço Funerário municipal, a meses não atende nenhum funeral nos hospitais todos como de alto padrão. No passado recente fui ameaçado de morte por denuncia-los, nem eu morri, nem eles deixaram de atuar. Até quando?, se alguém tem que sair de cena, espero que sejam eles.

6- Diversidade de gênero profissional.

Quem conheceu os antigos fornecedores de artigos funerários, sabe o verdadeiro sentido da palavra “amigo” conjugada com a palavra “profissional”, poderia citar dezenas deles, mas vou falar só o nome de um como referência, que por sua atuação exemplar representa, respeitosamente, a todos os demais: “Celestino Tacacenco”, bons tempos e quanta saudade, de quando os espaços eram respeitados, se sabia exatamente, o papel que cada um devia representar no segmento. Hoje temos uma torre de babel, fornecedor de artigos funerários sendo prestador das atividades das funerárias ou das entidades, funerárias fazendo a vez dos fornecedores, talvez seja a chamada tolerância de gêneros, talvez seja só ingenuidade nossa ou é só pura malandragem de quem a cada momento tem uma cara diferente, a verdade é que hoje ninguém é mais o que é, e nunca se sabe quem é o que de verdade, manter a mesma personalidade e postura passou ser uma exclusividade reservada a um grupo seleto do setor funerário. Quem acende uma vela para o Diabo e outra para Deus acaba ficando no escuro.

7- Fogo amigo.

De todos os problemas do nosso setor o único que me deixa sem chão é o fogo amigo, este realmente me causa uma indignação e uma tristeza ímpar. Companheiros, as vezes de longa data, se sucumbindo e fazendo de sua empresa funerária uma máquina mortífera de ganhar dinheiro a qualquer preço, rasgando nosso código de ética, se transformando em plataforma ou sub plataforma com o propósito claro de levar vantagem em cima das funerárias menores, se aliando a pessoas que agem de forma a enfraquecer nossas entidades e se deixando seduzir pelas vantagens efêmeras. Perder para o inimigo não é nada perto de perder um amigo, ser atingido pela frente não dói nem uma centésima da fração que dói ser atingido pelas costas.

Contra o fogo amigo do setor não vamos lutar, mas também nunca vamos aceitar. Perdoamos todos nossos inimigos, mas nunca esquecemos seus nomes.

Conclusão

Nada disto nos afasta de nossos ideais, se um verdadeiro Diretor Funerário morrer afogado, busquem o corpo rio acima, porque ele morrerá lutando e esperneando, gritando e defendendo sua vida de funerário.

Aqueles que hoje estão se afastando da margem do rio (Entidades), para não ajudar ou prejudicar, que fiquem sabendo que não deixarão saudades, afinal não se perde o que não se tinha, de verdade nunca foram companheiros, ao primeiro canto da sereia correram em sua direção, esqueceram nossa história, o início de tudo, os compromissos e as promessas feitos com a luz das edições da Funexpo, trairam os acordos e projetos de tornar o setor próspero a todos e não apenas a um pequeno grupo de indivíduos, já abastados.

Quem sabe o que é lealdade não senta na mesa dos que se enquadram nos sete cupinzeiros acima, não batem palma para louco dançar nem participam do baile dos infiéis, sustenta e pé o que falou sentado, não diz nada pelas costas, nem arma na surdina, o desaparelhamento de sua entidade, não enxerga um Brasil Funerario dividido e defende a nossa instituição nacional a Abredif.

Depois de 42 anos sendo funerário não tenho tempo a perder reclamando, nem para brincar de Poliana e fazer de conta que tudo tá perfeito, mas tenho forças ainda para lutar pelos ideais que me foram passados por meu Pai, pelo “Voinho” e pelos Companheiros de todas as horas (incluso os seus, que está lendo agora), continuar a remar não é opção, é a razão de existir, se o pior voltou, o melhor nunca foi embora, está doma dura mais que 8 segundos, dura uma vida, uma vida de Funerário.

Não importa de quem é a culpa pela situação atual, a responsabilidade é de todos nós, respondemos como setor, coletivamente, para sociedade os erros não são vistos individualmente e sim como da atividade que desempenhamos, pagamos por tudo que está errado, independente de quem errou, se tivermos êxito em nossas ações, um dia talvez possamos receber pelo que de fato realizamos.

Lourival Panhozzi

Presidente da ABREDIF/SEFESP

Diretor Funerário

Vivendo uma vida de funerário.