No contexto da psicologia do luto, a oração pode promover conforto e fortalecimento
Ir além das palavras. Foi com esse pensamento que um grupo de mulheres do Canadá e dos Estados Unidos iniciaram um movimento em torno da oração em favor de causa sociais, no século 19. Ao longo dos anos, denominações do Cristianismo marcavam datas especiais para erguer preces pelas missões de suas igrejas. Oficialmente, o Dia Mundial da Oração é comemorado na primeira quinta-feira de março (em 2020 foi no dia 6).
A oração é uma súplica feita à uma divindade na qual se creia. Este recurso religioso é utilizado por muitos como forma de agradecer e de enfrentar com um olhar positivo os pesares do cotidiano. Dentro da visão da psicologia do luto, por exemplo, a crença na oração pode promover forças para o momento de perda de parentes e amigos.
A psicóloga do Grupo Vila, Rafhaela Barros, explica que “cada religião tem uma visão de morte diferente, algumas não entendem morte como fim, mas como uma nova vida, uma nova oportunidade”. A partir dessa forma de ver o fim, a oração pode trazer conforto para pessoas enlutadas. “A gente percebe que orar é um recurso de fortalecimento e de enfrentamento, pois se eu acredito dentro da minha crença que eu vou reencontrar aquela pessoa, isso traz um conforto”, revela.
Mas nem todas as falas religiosas ajudam, como alerta Rafhaela. “Existem algumas instituições que são muito rígidas, em que o enlutado se sente aprisionado. Exemplo disso é que muitos não creem que não se pode chorar, pois o seu familiar que faleceu está em sofrimento se o vir chorando. Em outros casos, o indivíduo força-se a crer que deve se sentir grato porque o ente querido retornou à casa do Pai e se encontrou numa situação melhor do que ele que ficou. Algumas falas trazem uma dose extra de sofrimento e não confortam. A crença em si é um recurso significativo, mas algumas instituições trazem uma rigidez que não agrega.”
Em casos de mortes inesperadas, o sentimento de revolta inserido nas orações por meio de questionamentos é considerado como parte do luto pelos especialistas no assunto. “Após a perda de alguém, a pessoa passa por momentos voltados para dor e outros voltados para a restauração. Nós percebemos que em situação na qual a morte se apresenta inesperadamente, como um pai sepultando o filho, que vai contra a lei natural da vida, o sentimento de revolta aparece, diversas vezes contra Deus ou outra divindade”, diz Rafhaela, que acompanha enlutados com diversos perfis dentro de ações desenvolvidas nos cemitérios e crematórios Morada da Paz.
“Os questionamentos às divindades nas orações após a perda de uma pessoa querida fazem parte do processo de elaboração do luto. Não quer dizer falta de fé ou de crença, muito pelo contrário. A crença religiosa, em muitos casos, vem como fortalecimento mesmo, trazendo sentido e, assim, o conforto”, finaliza a psicóloga.