Maxime Nory, 32 anos, estudava em uma escola de negócios em Lyon, França, quando ele e seu amigo começaram a pensar em lançar sua própria empresa. Buscando um setor para apostar, eles encontraram um nicho à espera de holofotes e cheio de tabus: a morte.
“Percebemos que era um setor em que ninguém queria trabalhar e inovar. E é exatamente isso que nos interessou”, conta o jovem empreendedor. “Avaliamos que, como se tratava de um setor que vinha sendo negligenciado pelos empresários, provavelmente havia boas oportunidades.”
Ele estava certo. Oito anos depois, Nory é o CEO da Simplifia, uma empresa de serviços funerários com 22 funcionários que tem também como cofundador Baptiste Dhaussy. A companhia fornece software para empresas funerárias e também presta serviço diretamente para famílias enlutadas, auxiliando-as em tarefas administrativas como fechamento de contas bancárias ou pagamento de boletos em aberto. A Simplifia tem parcerias com mais de 700 empresas funerárias francesas.
Os empreendedores franceses conseguiram perceber e surfar na onda de uma tendência. Como muitos outros países, a população da França está envelhecendo, o que significa que o número de mortes está aumentando. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos da França, são projetadas mais de 770.000 mortes em 2050 — contra 531.000 em 2000. Um estudo de 2018 feito por uma consultoria mostrou que as receitas neste mercado cresceram 25% entre 2006 e 2016 no país, e que seu valor em 2018 era de € 2,5 bilhões (aproximadamente R$ 11 bilhões).
Investimento da maior incubadora de tecnologia da Europa
Outra empresa novata, a start-up AdVitam, oferece serviços funerários online, em contraste com as lojas dos operadores tradicionais. Seu CEO, Philippe Meyralbe, 38 anos, decidiu entrar no setor após organizar o funeral de seu pai – uma experiência que ele descreve como “chocante”.
Meyralbe considerou os procedimentos padrão pesados e carentes de humanidade. Ele diz que o representante da empresa funerária que o atendeu se portou como um vendedor orientado pelo pagamento por comissão, tentando vender os itens e serviços mais caros. O processo também durou horas, justamente em um momento que Meyralbe queria estar mais perto da família e resolver questões burocráticas relacionadas à morte.
A AdVitam não tem ponto físico. Em vez disso, as famílias podem organizar funerais e comprar itens, incluindo caixões, por e-mail ou por telefone, contando também com os serviços de conselheiros fúnebres. Um representante da AdVitam, inclusive, costuma estar presente no próprio funeral. A equipe também pode ajudar a fechar contas administrativas e nas mídias sociais do falecido.
A start-up de Meyralbe organizou 1.500 funerais desde o seu lançamento em 2016. Também levantou € 1,8 milhões de euros de investidores e foi selecionada pela maior incubadora de tecnologia da Europa, a Station F.
“Acho que eles nos escolheram porque fazemos um projeto com caráter social e valores fortes, proporcionando às pessoas um serviço de fato”.
FONTE: BBC