Quando alguém parte cedo demais e voluntariamente, é tão inesperado e assustador que nos fogem palavras ou ações. É muito
difícil compreender.
O primeiro passo é o mais difícil e profundo : falar do ocorrido com os envolvidos é ato de coragem que exige muita sensibilidade, que poucos dominam e menos ainda se arriscam fazer. Mas precisa ser feito.
A vítima de si mesmo, que tirou a vida porque queria aplacar uma dor, precisa ser orientada, pois está presa no resultado de seu ato, necessitando que lhe digam, sem julgamento, que nesse momento todos estão do seu lado, vibrando a seu favor, para que ela possa fazer a travessia na direção da cura dos motivos que a levaram à situação atual.
Os que ficaram precisam, na mesma medida, de amparo, pois, nas primeiras horas, virá incessantemente uma culpa que não lhes cabe. Virá a pergunta inquietante …como não pude evitar.
Somente no tempo adequado a compreensão pousará no coração. As palavras precisam ser colocadas no momento que o ouvido do entendimento estiver preparado, isto irá ocorrer gradativamente.
Embora hoje, o autocida e os sobreviventes estejam em polos diferentes, os extremos se encontram, contudo, é impossível imaginar que alguém possa estabelecer uma fórmula que rapidamente permita a superação das necessidades de ambos. E um momento em que apenas o afeto pode confortar.
Nós, coadjuvantes desse processo, não estamos isentos de responsabilidade. Devemos, na medida da capacidade e intuição de cada um, movimentar-nos na direção do auxilio àqueles que estão vivendo o papel principal desse momento de imensa dor.
O poeta português Mário de Sá Carneiro escreveu:
“Um pouco mais de brasa eu era sol…um pouco mais de azul eu era céu…. Perdi-me dentro de mim porque era labirinto e hoje quando me sinto é com saudade de mim. Matou-se muito jovem”
Lourival Panhozzi