Três meses após denunciar à Polícia Federal e ao Ministério Público que pessoas abusam sexualmente de cadáveres femininos em Institutos Médicos Legais (IMLs) e em funerárias, no Brasil, Nina Maluf sofreu ameaças de morte. Ela e o companheiro, Vinícius Cunha, trabalham em uma funerária no Rio Grande do Sul, deram publicidade ao caso que ficou conhecido como Festa no IML.
O nome veio de um dos grupos no Facebook em que eram divulgadas imagens pornográficas com mulheres mortas, que Nina garante terem sido feitas de dentro de IMLs e de funerárias no país. “A mulher é abusada até na morte”, afirmou Nina. Segundo ela, quase 100 dias após a denúncia, nada foi feito contra as pessoas que
“Repercutiu muito mal, só que para mim. Fui ameaçada de morte por gente perigosa e tenho filho pequeno. Fiz o que eu podia, fiz um trabalho fortíssimo durante anos a fio, porque para mim como mulher é algo inaceitável. As denúncias foram simplesmente ignoradas pelo meu segmento e pelas autoridades. Agora eu lavo as minhas mãos”, afirma Nina.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul, por meio da Assessoria de Imprensa, informou que a denúncia de Nina gerou o expediente RD.00849.00364/2020. “Após análise da 21ª Promotoria de Justiça, a documentação será encaminhada ao Departamento de Polícia Metropolitana para investigação dos fatos”, traz a nota enviada ao jornal Metrópoles.
A Assessoria de Imprensa da Polícia Federal (PF) declarou que a PF não se manifesta sobre “eventuais investigações em andamento”. Não informou, porém, se há ou não processo aberto para apurar os casos mencionados por Nina. O Código Penal prevê o crime de vilipêndio a cadáver, com penas que variam entre um e três anos de prisão, além de multa.
Já a necrofilia, uso de cadáver como objeto sexual, é considerada pela medicina como uma parafilia. O termo é usado para definir cada um dos transtornos que se caracterizam pela preferência ou obsessão por práticas sexuais socialmente não aceitas.
Piada – Dias após a denúncia de Nina se tornar pública, um perfil no Facebook apontado como sendo do criador do grupo Festa no IML afirmou que o conteúdo era de humor e que nenhuma imagem seria real.
Havia fotos de mulheres jovens e bonitas mortas em situações como acidente de carro e suicídio. O autor do post, então, comemorava que ela iria parar no IML. “Qualquer um pode dizer que é médico, legista, ou o que for. É tudo fake news”, escreveu o perfil. Após a imprensa dar publicidade ao caso, o grupo foi retirado do ar.
Nina contesta essas afirmações. “Piadas juvenis sobre esse assunto abrem margem para uma visão deturpada de uma realidade que não deveria existir, mas existe. Esse tipo de vídeo e foto tem milhões de views e comentários. Se a Polícia Federal quisesse, poderia ir atrás deles. É um tapa na nossa cara”, lamenta.
Até mortas mulheres precisam de segurança
Relatos de necrofilia em IMLs causam desconforto entre os profissionais da área. “Normalmente, são denúncias que vêm acompanhadas de provas. É quase impossível desacreditar”, afirma a perita criminal Gisele Barreto, que há 10 anos desempenha essa função em Manaus.
A perita descreve o caminho que um cadáver segue até chegar ao IML e as falhas de segurança que podem haver. “A tendência no Brasil inteiro é que essa estrutura seja frágil”, diz.
A Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM) informou que repudia qualquer ação que configure vilipêndio de cadáver.
Sem solução – Outro crime que chocou o sul do país, em 10 novembro de 2019, ocorreu em Gravataí (RS). Policiais encontraram uma sepultura aberta no Cemitério Municipal de Gravataí, no bairro Rincão da Madalena, e, a metros dali, o cadáver de uma mulher, de 49 anos, com sinais de abuso. Ela foi retirada do túmulo e jogada em um matagal após o crime. A calcinha dela, além de pedaços do vestido, estava na trilha que levava ao local.
O caso de necrofilia foi registrado na 1ª Delegacia da cidade. Um ano depois, o culpado, segundo o delegado Marcio Zachello, à frente da apuração, nunca foi encontrado. “Colhemos material genético que estava no corpo da vítima para perícia, cruzamos as amostras com a de seis pessoas suspeitas e deu negativo. Jogamos a amostra no banco de perfil genético e estamos aguardando que coincida com algum perfil”,