Locais ganham cada vez mais destaque pelo valor histórico, religioso e cultural. Setor deve cultuar essa importância!
Durante o segundo semestre a Diretor Funerário trouxe uma série de reportagens sobre a Rota dos Cemitérios Europeus. Instituída no início dos anos 2000, para promover o turismo cultural para as cidades europeias, a Rota é um sucesso absoluto, principalmente porque o passeio nos cemitérios nem sempre tem custos e quando o tem, são bem convidativos, diferentes dos museus.
Para encerrar esse tema, a Revista Diretor Funerário trouxe um pouco do que tem sido feito no Brasil em torno da arte tumular. É dever de todos no segmento incentivar, propagar e até investir em ações semelhantes, pois elas resgatam a história do setor e a difunde.
Em São Vicente turistas investem até R$ 600,00 por passeios nos cemitérios
Uma empresa de turismo de São Vicente – litoral sul do Estado de São Paulo – tem, entre seus roteiros de passeio pela região, um tour pelos cemitérios santistas.
Assim, um local como o Pantheon dos Andradas, no Centro de Santos, se encaixa no turismo tumular. Em Santos, o pacote tem cerca de seis horas de duração e atende grupos de 10 a 25 pessoas. O roteiro prevê a visita a quatro cemitérios da cidade: Areia Branca, Filosofia, Paquetá e o Memorial. Desses, Marchesini acredita que os de maior impacto são o do Paquetá, primeiro de Santos e onde estão enterradas diversas personalidades, e o Memorial, presente no livro dos recordes desde 1991, que tem destaque por ser o maior cemitério vertical do mundo.
O pacote nasceu depois da empresa ter recebido pedido de uma universidade paulistana para levar uma turma que estudava arte tumular para conhecer os cemitérios de Santos. Para criar o roteiro, ele se aprofundou na história dos lugares, contratou um coveiro para ajudar a guiar o grupo e realizou a excursão. Desde então, o pacote continuou disponível no site da agência.
Uma excursão individual custa de R$ 500 a R$ 600, em média. Por isso, o ideal é realizar o passeio em grupos, dividindo a quantia entre os participantes.
Mortos ficavam em paredes, piso e perto de igrejas em Florianópolis
A grande maioria da população de Florianópolis – capital de Santa Catarina – desconhece a história das necrópoles que foram “sepultadas” com o desenvolvimento da cidade.
Só no Centro, havia pelo menos três cemitérios no entorno de igrejas, e um na cabeceira da ponte Hercílio Luz.
Há cemitérios no entorno da Catedral Metropolitana e das igrejas São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Rosário, todas localizadas no centro da capital conforme “Os Serviços Funerários na Organização do Espaço e na Qualidade Sócio-ambiental Urbana: Uma contribuição ao estudo das alternativas para as disposições finais funerárias na Ilha de Santa Catarina’, de Dalton da Silva, em 2002.
No texto, ele afirma que essas igrejas foram construídas a partir de meados do século 18 e serviram como locais para assentamentos funerários.
A Catedral Metropolitana – ou igreja matriz Nossa Senhora do Desterro e Santa Catarina – foi construída em 1712. Antes disso, existia no local uma capela e o primeiro cemitério da então Nossa Senhora do Desterro.
Segundo Dalton, “os primeiros assentamentos funerários deram-se no interior e em torno da atual igreja matriz”, inclusive o do fundador da cidade, Francisco Dias Velho, que morreu em 1687.
Ao longo dos séculos 18 e 19 era comum no Brasil e em boa parte da América que os sepultamentos das religiões católicas fossem feitos nas paredes e piso das igrejas e em seu entorno.
No Museu – Em Santa Catarina, o Museu Histórico recebeu durante de 10 de outubro a 04 de novembro a mostra “Um centenário de histórias”, com parte do acervo do Memorial Funerário Mathias Haas (MHaas) como cruzes, anjos, lápides e fotografias. A exposição apresentou, ainda, o projeto Inventário do Cemitério da Comunidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana Blumenau-Centro, apoiado pela empresa Haas e pelo Memorial, que possibilitou o registro das unidades tumulares de valor cultural do cemitério que abriga parte da história de Blumenau em seu acervo material e imaterial.
O Memorial MHass foi arquitetado como parte das comemorações do centenário da empresa funerária, celebrado em 2018. Ele é o primeiro museu do Brasil dedicado à preservação e difusão do patrimônio cultural funerário com um acervo sobre a história da morte e dos cemitérios.
Em São Paulo eventos dentro dos muros
Em São Paulo, onde o Projeto Arte Tumular – Visitas Guiadas do Cemitério da Consolação – completa 10 anos, o turismo cemiterial já permite alguns empreendimentos mais arrojados.
Conhecido como museu a céu aberto, o cemitério da Consolação foi o primeiro da capital paulista, fundado em 15 de agosto de 1858 e possui túmulos de personalidades como Monteiro Lobato, Tarsila do Amaral, Ramos de Azevedo, Antoninho da Rocha Marmo, Mário e Oswald de Andrade, além de obras de importantes escultores, como Victor Brecheret, Nicola Rolo, Luigi Brizzolara, entre outros.
Nos demais cemitérios públicos da capital paulista, está acontecendo um movimento de “requalificação do espaço”, somando à arte tumular e ao culto da memória atividades de esportes, lazer e entretenimento.
É ocaso das projeções de cinema do Cemitério da Vila Nova Cachoerinha, o “Cinetério”, com sessões ocorrendo desde 2007. Através de um dispositivo legal, desde 2014, as necrópoles públicas e privadas passaram a fazer parte do Sistema Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres do município, o que garantiu, em termos práticos, que o lazer passe a ser uma dimensão tão importante como a administração dos túmulos e a logística das inumações e exumações.
Isso inclui projeções de cinema seguidas de debate com atores e produtores de filmes, montagens e peças interativas, shows de rock, feira de adoção e castração de animais e ainda ações de saúde pública. Além da possibilidade de fazer trilhas e pedaladas, ou mesmo contemplar um jardim de ipês enquanto passeia com o seu animal de estimação. Todas essas atividades dentro dos cemitérios espalhados pela cidade.
Fontes: G1 / Jornal da Ilha / Jovem Pan