Imprensa portuguesa se impressiona com os números da COVID-19 em São Paulo

“A nossa rotina era um pouco corrida, mas nada comparado ao que há hoje (…) Fazíamos por volta de 30 sepultamentos por dia. Num dia muito corrido, eram 45. Hoje, estamos a fazer por dia uma média de 50 a 60 sepultamentos. Quase dobrou o número de sepultamentos”, diz o coveiro no cemitério de Vila Formosa há sete anos.

Os enterros são realizados um na sequência do outro, até mesmo depois do anoitecer. Nos sepultamentos das vítimas da Covid-19 há no máximo cinco pessoas presentes, por determinação do Governo local, e os funcionários receiam ficar infectados. “Nós passamos praticamente o dia todos juntos e temos receio de nos contaminar”, continua o profissional.

“De um total de 50 até 60 sepultamentos que fazemos, em pelo menos uns 10 ou até 15 os familiares querem abrir as urnas,, mas a orientação é que não pode”. Os caixões devem permanecer selados, acrescentou.

O Serviço Funerário Municipal de São Paulo disse que só em Maio foram realizados 1.891 enterros no cemitério Vila Formosa.

Em toda a cidade – considerando cemitérios municipais, particulares e o crematório – foram registados 6.401 sepultamentos em Janeiro, 5.985 em Fevereiro, 7.077 em Março e 8.296 em Abril e 9.794 em Maio deste ano, num total de 37.573 enterros, mais de dez mil que no mesmo período do ano passado.

A prefeitura da maior cidade do Brasil divulgou, no início de Abril, um plano funerário, criado para evitar o colapso no sepultamento de corpos diante do aumento de mortes pelo novo coronavírus.

Entre as medidas anunciadas pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas, consta a abertura de 13 mil covas, a contratação de 220 coveiros e a aquisição de mais de 30 carros para a frota do Serviço Funerário.

Enterrar um amigo – O pastor evangélico foi um dos que foi enterrar o colega, 63 anos, que morreu da Covid-19. Com uma Bíblia na mão, tentou confortar a família da vítima.

“Ele era um amigo, era um ministro da casa de Deus, tinha esposa, quatro filhos. Ele estava

dentro de casa, não estava saindo, porém, os filhos têm de trabalhar e provavelmente ele pegou o vírus desta maneira. Pegou ele, pegou a filha, e dois filhos. A esposa e o outro filho não pegaram. Como ele era a pessoal mais frágil”, acabou por morrer, contou o pastor, visivelmente emocionado. Na periferia da zona leste de São Paulo, os casos e as mortes provocadas pela doença têm sido frequentes.

A pandemia no Brasil tem sido objeto de vários alertas internacionais depois de o Governo, liderado por Bolsonaro, ter começado por minimizar a doença, recusando medidas de confinamento e pressionando para tratamentos médicos cuja eficácia não está confirmada.

No meio da crise, houve duas substituições de ministros da Saúde e o Governo já anunciou que não pretende continuar a divulgar os números oficiais de infecções e mortes, alegando que os médicos estão “manipulando” os valores.

Mas em Vila Formosa, no cemitério fundado em 1949, o momento é de chorar os mortos.

Fonte: SAPO PT