Órgão Sindical fez uma ação durante a pandemia para enfatizar a necessidade do uso de EPIs e aproveita o momento para expor fragilidades da categoria
O crescente número de mortes pelo novo coronavírus (Covid-19), a necessidade de enterrar um número cada vez maior de pessoas e os cuidados básicos que precisam ter para não serem contaminados com o vírus acabaram expondo para toda a sociedade a importância dos trabalhadores e das trabalhadoras dos serviços funerários.
Os sepultadores – ou coveiros – são responsáveis em construir, preparar, limpar, abrir e fechar sepulturas. Além de realizarem sepultamento, exumação e cremação de cadáveres, os trabalhadores dos serviços funerários transladam corpos e despojos. Em suas atividades profissionais também estão incluídas a conservação de cemitérios, máquinas e ferramentas de trabalho.
Em geral a categoria é orientada a usar EPIs e as empresas procuram manter essa obrigação em dia. Mesmo assim, preocupada e ciente da importância desta categoria, a CUT – Central Única dos Trabalhadores decidiu articular ações de proteção e segurança aos trabalhadores e trabalhadoras dos serviços funerários de todo país.
Além de uma Minuta de Proposta de um Projeto de Lei (PL) para saúde e segurança (SST) de servidores e contratados nos serviços funerários municipais do país, frente aos riscos biológicos, físicos, químicos e psicossociais, um grupo de trabalho da Central elaborou uma série conteúdos explicando a importância do uso dos EPIs e medidas de segurança para proteger a saúde e a vida da categoria.
As ações foram coordenadas pela secretaria da Saúde do Trabalhador da CUT Nacional e envolve a CUT São Paulo, Sindicato dos Servidores Municipais da cidade (Sindsep), médicos da Associação Brasileira de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (ABRASTT) e a LBS Advogados, que presta serviços para a Central.
“A gente enviou para Estaduais da CUT, Ramos e Sindicatos uma minuta com objetivo de orientar os dirigentes sindicais a apresentarem projetos de Lei nas Câmaras Municipais e assim garantir melhores condições aos trabalhadores dos serviços funerários”, explicou a secretária da Saúde do Trabalhador da CUT.
De acordo com a CUT, antes da pandemia muitas pessoas não tinham conhecimento das inúmeras exposições e riscos do trabalho destes profissionais e com o número de sepultamentos aumentando consideravelmente e as condições de trabalho piorando, a entidade quis trazer a luz a face humana, além de reivindicar os direitos desta categoria.
“São estes trabalhadores e trabalhadoras que estão no último momento da história da pessoas, segurando o caixão, colocando em covas e valas, como vimos muitas vezes pela televisão, e eles precisam de proteção social, segurança e valorização porque, assim como toda classe trabalhadora, são importantes para toda população”, ressalta a secretária da entidade.
O agente sepultador e diretor do Sindsep, Manoel Norberto Pereira, contou que já perdeu a conta de quantas doenças ele e seus colegas de profissão já tiveram pela falta de EPIs. Ele também disse que só quando chegou a pandemia é que a categoria se deu conta de que estava usando equipamentos vencidos e que foi preciso muita batalha para proteger todo mundo.
“Trago muitas marcas do trabalho no meu corpo há muitos anos e já vi muita gente ficar doente no serviço, mas foi só com a chegada desta doença [Covid-19) que a gente viu que estávamos usando máscaras vencidas há mais de 3 anos e também começamos a usar outros EPIs que só usávamos na exumação dos corpos”, explica Manoel, se referindo ao macacão de proteção usados pelos agentes sepultadores.
Estes profissionais estão expostos a diversos riscos, como lesões na pele, ruído, vibrações, exposição a temperaturas extremas, contato com produtos químicos usados no preparo dos corpos e para higienização dos espaços, partículas suspensas no ar, vírus, bactérias fungos, bacilos parasitas e protozoários.
Além da presença de animais transmissores de doenças ou de animais peçonhentos, problemas com postura inadequada durante a realização do trabalho, excesso de peso no deslocamento dos corpos, imposição de ritmos excessivos, as jornadas de trabalho prolongadas, o trabalho em turno e noturno.
“A disposição da CUT de ir atrás e nos ajudar com a segurança e proteção que a categoria tanto precisa é para mim muito importante, porque por muitos anos fomos invisíveis e foi preciso muita luta, muita denúncia e muita mobilização para garantirmos os equipamentos para os trabalhadores do serviço funerário”, afirma Manoel, que está na área há mais de 20 anos.
Depois de visitas diárias a cemitérios e o contato direto e permanente com a base de trabalhadores, o Sindsep conseguiu garantir para a categoria calça, blusa, avental, boné com calda ou gorro, máscara, protetor facial, botas, macacão, luvas e óculos.
Condições precárias – Fora a questão de EPIs, que preocupa e é urgente, Manuel conta que os governos se aproveitaram do momento para mexer nos salários (congelado pelo governo federal).
A categoria expõe ainda que os quadros profissionais estão desatualizados, porque há muita gente se aposentando e nenhum concurso há mais de 20 anos. Baixo salário e falta de atenção à saúde contribuem para uma qualidade de vida ruim, na opinião das lideranças da classe, que também temem demissões em massa por conta das privatizações planejadas em algumas localidades.
Fonte: Mundo Sindical