A luta após o luto no Brasil que supera 400.000 mortes na pandemia

Familiares de vítimas da doença criam associação para lutar na Justiça pela responsabilização do poder público pelo descontrole da pandemia no país.

Organizados em uma associação, eles cobram políticas públicas e apontam a negligência do Governo na tragédia brasileira. “Transformei meu luto em força para impedir que outras pessoas passem por isso. É uma tremenda injustiça. O Brasil já viveu muitas, mas esta está violando direitos de todas as faixas etárias e classes sociais. Alguém precisa responder por isso”, diz Paola.

A Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico) foi criada para oferecer um apoio coletivo em meio ao luto que assola os brasileiros, mas se organiza também como um movimento de denúncia contra a omissão das autoridades frente à maior crise sanitária desta geração. O pior é que não há sinais de que a situação vá melhorar de forma consistente.

Por um grupo no WhatsApp, cerca de 100 membros da associação dividem a dor da perda, se apoiam e discutem estratégias para levar à Justiça possíveis falhas dos governos federal e locais na mitigação da crise. Preparam provas para questionar desde a distribuição do “kit covid“ ―um coquetel de medicamentos sem eficácia contra a doença que teria estimulado as pessoas a se exporem ao risco― à ausência de ações efetivas para os sobreviventes que sofrem com sequelas do coronavírus.

A primeira tentativa de responsabilização institucional no país foi posta em marcha apenas recentemente. Senadores instalaram uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar se houve omissão do Governo Federal no enfrentamento à pandemia. O presidente Jair Bolsonaro adotou uma política errática durante toda a crise. Negou a gravidade do vírus, levantou uma dicotomia entre o cuidado à saúde e a preservação da economia, sabotou medidas de isolamento social, propagandeou medicamentos sem eficácia, questionou a segurança de vacinas por meses. Seu Governo demorou a negociar doses, e o ritmo da campanha de imunização no país segue lento pela escassez delas.

Fonte: El País