Mamãe por que papai morreu?

Podemos ajudar as crianças a entender e falar sobre a dor, sobre a perda e sobre o luto

Se já é difícil para adultos, imagine para as crianças, que nem têm formado o conceito da perda. Todos experimentamos a morte e o sofrimento que ela provoca, de maneiras diferentes. Quando um ente querido morre, as crianças podem achar particularmente difícil se expressar e entender o que aconteceu.

Existem hoje várias organizações e grupos trabalhando para ajudar crianças a encontrar luz e significado no luto. Este texto foi elaborado e contém dados dos estudos de Stacey Hart, da instituição de caridade Grief Encounter.

Conhecendo o luto – É preciso que os adultos compreendam o processo de luto para que possam auxiliar as crianças e jovens através de seus próprios lutos e, assim, aliviar a dor causada naqueles que, em razão da juventude, não tiveram tempo de se preparar.
Geralmente os pais falam com os filhos sobre os cuidados que estes devem ter e de como devem se comportar em diversas situações, contudo, raramente incluem o tema morte  e luto como uma realidade presente em nossas vidas.

É preciso que, mesmo antes do fato concreto, as crianças tenham conhecimento de que é possível reconstruir a vida após a morte de um ente querido. O luto surpresa, aquele do qual nunca se ouviu falar, é difícil para qualquer adulto, mais ainda para crianças. Elas têm um sentimento avassalador de confusão, medo e ansiedade junto com a dor, quando encontram o luto, sem nunca antes ter ouvido falar dele.

– Como uma criança pode aceitar o fato de mamãe ter morrido repentinamente quando se tinha 12 anos?

– Uma adolescente pode aceitar que seu pai nunca conhecerá seu noivo ou lhe dará novamente um beijo de boa noite?

Ninguém sabe exatamente quantas crianças são enlutadas a cada ano. Em alguns países dados são coletados sobre o número de filhos afetados pelo divórcio de seus pais, mas não o número afetado pela morte de um dos pais. O dia que conseguirmos levantar estes números, certamente ficaremos alarmados.

Como as crianças entendem a morte?

Crianças e adultos entendem a morte de maneiras muito diferentes. À medida que as crianças crescem e amadurecem, suas formas anteriores de pensar sobre a morte também mudarão. É essencial que os adultos tenham uma noção de como as crianças conceituam a morte em diferentes idades, para que, quando chegar a hora de falar sobre isso, elas possam responder de maneira apropriada à idade de desenvolvimento da criança.

As faixas etárias abaixo não pretendem ser exatas, mas representativas dos diferentes estágios de desenvolvimento. À medida que a criança cresce a sua percepção da morte muda, a compreensão desses estágios é crucial para dar as crianças e jovens o tipo certo de apoio.

De 0 a 2 anos

Até os dois anos de idade, uma criança terá pouco ou nenhum entendimento da morte, embora possa perceber emoções como a tristeza das pessoas ao seu redor. A partir de dois anos, as crianças começam a entender o conceito de uma pessoa que está morrendo, apesar de, no início, não entenderem sua permanência.
De 2 a 5 anos

Crianças de 2 a 5 anos de idade podem variar enormemente na compreensão do mundo e da morte. Muito provavelmente eles conhecerão as palavras ‘morte’ e ‘morrer’, mas certamente ainda não terão um entendimento real de sua permanência. Eles podem imaginar que a pessoa morta pode retornar ou que eles estão em um local físico real, como o céu. Geralmente, não há conceito de morte pessoal; a morte é algo que só acontece com outras pessoas. Eles podem começar a expressar preocupações de que adultos significativos também morrerão.

 A partir dos 5 anos

À medida que as crianças crescem, começam a perceber que tem algo verdade chamado de morte e podem desenvolver um interesse crescente nos seus aspectos físicos e biológicos. Mas esse aumento da compreensão factual da morte é muitas vezes misturado com fantasias, como uma preocupação com esqueletos e fantasmas. O chamado “pensamento mágico”, que os faz  acreditar que podem fazer as coisas acontecerem – como acidentes e morte – pode ser confuso e assustador neste momento.

 Adolescentes
Os adolescentes provavelmente são caracteristicamente imprevisíveis e voláteis em suas respostas ao ouvir que um ente querido morreu. Alguns podem querer estar próximos da família, ignorando a vida escolar e social. Outros, ao contrário, podem se distanciar de uma maneira que pode parecer ofensiva e rejeitadora. O grupo de colegas pode ser muito importante e os comportamentos de “representação” podem ser preocupantes para os cuidadores. É importante dar aos jovens espaço para processar suas emoções em mudança, ao mesmo tempo, manter os limites e as regras usuais que os ajudarão a se sentirem seguros em um momento tão confuso.

Ser honesto com as crianças de maneira apropriada à idade geralmente é a melhor abordagem, pois a imprecisão pode levar ao medo de que algo pior esteja sendo escondido delas. Também é importante que as crianças testemunhem pessoas que sofrem demonstrando emoções.
Mostrar que não há problema em chorar é bom para as crianças, caso contrário, elas mantêm seus sentimentos aprisionados. Por exemplo, se papai morreu e eles veem mamãe com o lábio superior rígido, segurando as emoções, eles podem pensar que precisam fazer igual, acreditando que não é bom mostrar seus sentimentos.

Da mesma forma, eufemismos  não mudam o fato que um óbito na família coloca a vidas de vários de seus membros de cabeça para baixo. Mas toda família precisa mostrar às crianças que ainda há uma vida a ser vivida.

Da aceitação ao ajuste – A palavra ‘aceitação’ é freqüentemente usada para definir o último estágio do luto. Costuma-se acreditar que é aqui que devemos chegar depois de experimentar as muitas emoções diferentes em nossa jornada de luto. Nós devemos gerenciar as expectativas, e obviamente, precisamos de um resultado positivo para nossas crianças e jovens. Então, se alteramos a palavra ‘aceitação’ para ‘ajuste’, podemos reconhecer que a vida nunca mais será a mesma, que haverá muitas mudanças e novos acontecimentos que poderão trazê-la novamente a normalidade.

O termo ‘ajustado’ deve aliviar a pressão dos enlutados. Não há problema em sentir raiva, tristeza, culpa, é sim, preciso saber que isso é perfeitamente normal.

Lourival Panhozzi

Leia mais na Diretor Funerário de Janeiro 2020