Carmen del Pilar Chacón, 64, foi encontrada viva pela polícia na última quarta-feira, depois de ter passado cerca de 18 horas sobre uma mesa e coberta por uma manta, rodeada de familiares “de luto”.
Segundo a imprensa do país, porém, Chacón havia sido internada com um quadro grave de pneumonia, diabetes, hipertensão e anemia, mas tirada do hospital por três parentes – uma de suas filhas, o marido desta e uma tia dele – enquanto ainda estava inconsciente.
“Os familiares disseram que haviam recebido (do médico) a informação de que (Chacón) morreria e pediram alta voluntária. Evidentemente foram (a funerária) deixá-la esperando a morte”, disse na quinta-feira o promotor de La Paz Edwin Blanco ao jornal La Razón.
A polícia afirma que foi uma amiga de Chacón quem percebeu, durante o funeral, que ela ainda estava viva.
“Me aproximei para ver minha amiga e vi que ela estava com vida em uma mesa, coberta por uma manta”, disse em seu perfil no Facebook.
A uma emissora de TV, a amiga contou ter perguntado à filha de Chacón por que havia levado a mãe à funerária sem que estivesse morta. “Ela me disse que não poderia levá-la para sua casa porque tem uma filha.”
O administrador da funerária onde Chacón era velada também foi detido, mas liberado pouco depois por não haver evidências até o momento de que tenha sido cúmplice.
Chacón, porém, não estava sendo velada em uma das salas oficiais da funerária, mas sim em um quarto contíguo do local.
“Tive o horror de admitir (o erro); é a primeira e única vez que isso acontece, não temos nenhum antecedente”, disse o administrador. “(Os parentes) me mostraram um documento que a senhora tinha uma falência múltipla de órgãos. Me comovi com a família e aceitei ceder a eles um ambiente que não é o funerário.”
O caso rapidamente se tornou um dos mais comentados no país, inclusive por autoridades.
“O que está acontecendo com a nossa sociedade? Por acaso perdemos todos os valores humanos? Exigimos uma profunda investigação”, afirmou o ministro boliviano de Justiça, Héctor Arce.
Chacón voltou a ser hospitalizada, e seu quadro era grave.
Em meio à comoção causada pelo caso, os médicos que a haviam tratado inicialmente negaram ter dito a seus parentes que ela estava à beira da morte.
“Em nenhum momento ela foi desenganada nem indicamos que ela tinha poucas horas de vida, mas os parentes consideraram que ela provavelmente não melhoraria e pediram a alta médica de forma voluntária”, disse um membro da equipe de terapia intensiva do Instituto Nacional do Tórax de La Paz.
Fonte: BBC