A psicóloga do luto do Morada da Paz, Alexsandra Sousa, detalha a importância da ludicidade nesses momentos e do respeito à individualidade
A morte, apesar de natural e certa, ainda é tida como tabu na sociedade. Em se tratando da infância, o tema fica mais difícil de ser desenvolvido e, em situações de perdas de entes queridos ou de um animal de estimação, pais e responsáveis podem não saber agir de forma a ter um bom diálogo com os pequenos.
A psicóloga especialista em luto Alexsandra Sousa, que faz parte da equipe do cemitério, crematório e funerária Morada da Paz, explica que poupar a criança da notícia de que alguém próximo morreu pode não ser uma saída legítima. “É comum cultivarmos a ideia de que o mundo das crianças é marcado pela inocência e pela ausência de sofrimento. Por vezes, para a família é difícil dialogar com o mundo particular de cada criança e existe uma grande tendência dos adultos de não saberem como aproximar a temática da morte do universo infantil”, afirma a psicóloga.
Para a designer Giovana Simões, mãe de Dante, o diálogo foi fundamental para lidar com as perdas do avô de seu filho e do animal de estimação da família, ambos muito importantes e amados pelo pequeno de cinco anos. “Dante esteve muito presente nos últimos seis meses de vida do meu sogro, acompanhando a forma como a doença que o acometia foi debilitando-o, mas ainda sendo constantemente lembrado sobre como o avô o amava e queria ele por perto”, recorda Giovana.
Como os adultos, as crianças também precisam vivenciar a realidade, respeitando as diferenças de idade, mas com foco em permitir que ela perceba o mundo que as cercam. “A presença da família e sua orientação são necessárias para a condução desse processo que envolve tantas emoções e desafios diante da fase do desenvolvimento cognitivo que a criança está”, lembra Alexsandra. No caso da família de Giovana e Dante, a escolha foi por não excluir a criança do processo de finitude do avô. “Antes de resolver os procedimentos do funeral e sepultamento, pedi para que meu filho fizesse um desenho bem bonito para que entregássemos ao vovô quando fossemos nos despedir dele e assim ele fez. No dia do velório, explicamos antes como meu sogro estaria, para que fosse natural vê-lo daquela forma”, conta Giovana.
Luto e saudade
A visão que a criança tem sobre a morte é diferente da do adulto. Os estudos sobre o tema do luto na infância apontam que o entendimento do conceito do que é a morte para as crianças caminha lado a lado com o desenvolvimento cognitivo. Muito mais importante do que ter todas as respostas para a criança é estar presente e ser suporte para as conversas mais difíceis e as perguntas mais inusitadas. “Em muitos momentos, não teremos respostas certas, absolutas. O adulto pode não saber responder e dizer: ‘não sei, vamos descobrir juntos’ e isto fortalece a relação”, reforça Alexsandra.
Dante acompanhou todo o processo do velório e sepultamento do avô. “Ele sempre entendeu muito bem que o avô não estaria mais na Terra conosco. Da mesma forma com nosso cachorrinho Guga, que faleceu repentinamente, foi cremado e Dante recebeu as cinzas como uma forma de entender o processo de despedida”, explica Giovana.
Nos momentos que se seguiram ao falecimento de seu avô e do seu pet, o pequeno Dante experimentou sensações nem sempre agradáveis, mas foi uma escolha da família ser sincera e estar ao lado dele na hora de lidar com esses sentimentos, abordando questões sérias de forma leve, em vez de omitir fatos e provocar dúvidas ou medos. “Nas datas comemorativas, como o Natal, colocamos um enfeite na árvore com a foto de Jucelino, avô de Dante, e um enfeite de cachorro que representa Guga. No Dia dos Pais e Finados, levamos Dante ao cemitério para homenagear o avô com flores. Essas são algumas atitudes que usamos para reforçar e valorizar as memórias que temos com eles”, explica Giovana.
É preciso estar atento e observar como as crianças estão lidando e compreendendo a dimensão de tudo. “É necessário acompanhar seus comportamentos e sentimentos para que possam contar com ajuda especializada quando necessário”, alerta Alexsandra.
Como forma de auxiliar pais e responsáveis, o Morada da Paz conta com um espaço virtual que dispõe de material voltado para a construção do diálogo sobre o tema como as crianças, por meio do projeto Turma do Vilinha.
Fonte: Ideia Comunicação