Já dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Temos a arte para não morrer da verdade” ou ainda “A arte existe para que a realidade não nos destrua“.
A Revista Diretor Funerário manteve no último ano a seção “Varal” onde explorou a relação dos artistas de várias áreas (literatura, pintura, escultura, musica, etc…) com a morte e descobriu que o tema não só é muito vistado, como rende trabalhos belíssimos e muito famosos através da história.
Aqui vai um resumo dos pintores ilustres que registraram a morte em suas obras.
Hieronymus Bosch (c. 1450-1516) pintou “A morte do avarento” por volta de 1494. Possivelmente esta pintura seria o painel direito de um tríptico dividido. Apesar de pertencer a outro tempo, Bosch olha para trás e retrata temas medievais, embora com perspectiva distinta. O moribundo avarento se divide entre o anjo que lhe oferece um crucifixo e o demônio que aparece por debaixo da cortina com um saco de dinheiro na mão. Interessante constatar que, mesmo com todo o ambiente sinistro da pintura, ainda há esperança para o avarento, coisa impensável trezentos anos antes. Esta obra se encontra na National Gallery of Art, em Washington.
“A morte da Virgem“ é o maior quadro de altar pintado por Michelangelo Caravaggio (1571 – 1610), sendo encomendada por Laerzio Alberti Cherubini, o advogado do papa, para a sua capela na Igreja das Carmelitas de Santa Maria della Scala em Roma. No entanto, na ocasião a pintura foi recusada, pois o clero achou a obra ofensiva à igreja católica. As figuras são quase do tamanho real e o ambiente da cena é simples: a virgem Maria está morta e é retratada com simplicidade. Os apóstolos se entristecem com a cena, enquanto Maria Madalena chora sentada em uma simples cadeira, com o rosto escondido entre as mãos. Nada há neste quadro que revele a natureza sagrada de seu tema. Seu tratamento é naturalista, inclusive brutal e de grande crueza. Esta obra monumental pode ser vista no Museu do Louvre, em Paris.
Uma das obras mais famosas de Jacques-Louis David (1748-1825), pintor preferido de Napoleão, é “A morte de Marat“. A pintura retrata Jean-Paul Marat, revolucionário francês, assassinado em casa por Charlotte Corday. A inscrição “À Marat, David”, que aparece na caixa de madeira, cuja forma sugere uma lápide, indica que se trata de uma homenagem a Marat, que o pintor conhecia pessoalmente e que teria visto na véspera de sua morte tal como a representado, dentro de uma banheira. A obra está exposta no Musée Royal des Beaux-Arts, em Bruxelas.
Edvard Munch (1863-1944), autor de uma das obras mais famosas do mundo – “O Grito” – foi um pintor que retratou por diversas vezes as temáticas de doença e morte. Quando ainda não havia completado cinco anos de idade, sua mãe morreu vítima de tuberculose e, nove anos depois, faleceu da mesma causa a sua irmã Sophie. A obra “Morte no quarto da paciente“ reproduz o momento da morte de Sophie. Ela não aparece, pois está sentada em uma cadeira de espaldar alto, ao lado da cama, rodeada por três pessoas que a olham: o pai, a tia e o próprio Munch. Toda executada em tons verdes e ocre, a obra se encontra no Museu National Gallery, em Oslo.
Gustav Klimt (1862-1918) recebeu o 1º prêmio na Exposição Internacional de Roma com a obra “A vida e a morte“. Conflito entre vida e morte, a tela tem sentido ambíguo. Parecendo duas peças de um quebra-cabeça que se encaixam, as sinuosidades à direita das vestes da Morte, de cores frias, se completam com as do contorno esquerdo da coluna da Vida, cujas cores quentes adicionam dramaticidade à cena. Não se trata de um confronto, mas de um inevitável encaixe, já que o ciclo da vida só se compreende com a presença da morte.
“Construção Mole com Feijões Cozidos” ou “Premonição da Guerra Civil” foi pintado pro Salvador Dali (1904-1989) e encontra-se atualmente no Museu de Arte da Filadélfia, na Filadélfia. Concluída antes que a Guerra Civil Espanhola estourasse, em julho de 1936, a obra baseia-se em dolorosos pensamentos de saudade e de morte. O monstro que domina a tela parece ter as mesmas proporções do contorno do mapa da Espanha e dele saem braços e pernas que se rasgam mutuamente, enquanto uma forma fálica e flácida se debruça de um quadril rompido. Os feijões se esparramam pelo chão sem saciar a fome de ninguém. Observa-se o rosto do monstro em êxtase, enquanto os músculos tensos de seu pescoço e seus braços transformam-se e apodrecem. É provável que Dali acreditasse que mostrando a Espanha se autodestruindo, tentasse também mostrar as atrocidades cometidas pelas partes envolvidas em uma guerra.
“Criança Morta“, de Cândido Portinari (1903-1962), faz parte da série sobre os retirantes nordestinos e é, com certeza, a obra de maior conteúdo dramático do artista. A dramaticidade é potencializada pela composição do quadro que mostra um agrupamento humano do qual se projeta a criança morta. Os tons terrosos predominam na parte inferior da tela, que não são afetados pelas lágrimas da menina ou pelas imensas mãos do homem que segura a criança morta: nada irá amenizar a dor de mais uma perda desta família. Um quadro dantesco de luta entre a vida e a morte. A obra faz parte da coleção do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand .
Nietzsche sabia das coisas. A Arte não deixa a realidade nos destruir.
Fonte: Arte na Rede