Com os oito cemitérios públicos da cidade superlotados e sem espaço para ampliação dos terrenos, a Prefeitura do Natal pretende começar ainda este ano a sepultar corpos em gavetas verticais. O modelo, já usado em outras cidades, permite o melhor aproveitamento de espaços em sepultamentos, já que, nas estruturas verticalizadas, os túmulos são dispostos uns sobre os outros.
De acordo com o secretário municipal de Serviços Urbanos, Irapoã Nóbrega, a previsão inicial era que a construção das gavetas verticais começasse no ano passado, mas a pandemia de Covid-19 prejudicou o planejamento. Em 2021, o projeto será retomado, segundo ele, começando pelo cemitério do Bom Pastor, na Zona Oeste da capital potiguar. O secretário disse que inicialmente serão construídas mais de 1 mil gavetas. “Estamos formalizando o termo de referência para encaminhar à Secretaria de Obras, para fazer o edital. Logo após, vamos fazer a licitação da verticalização dos cemitérios. Vamos ter uma base de 1 mil a 1,1 mil gavetas. Isso dará uma folga em torno de 15 a 20 anos com relação a sepultamentos”, destacou Irapoã Nóbrega.
Atualmente, Natal tem oito cemitérios públicos, todos administrados pela Secretaria de Serviços Urbanos (Semsur). O problema da superlotação nos cemitérios se arrasta há pelo menos vinte anos. Famílias que não têm sepulturas já adquiridas enfrentam problemas para enterrar corpos de parentes na cidade. Isso tem levado, inclusive, pessoas a procurarem cemitérios administrados pela iniciativa privada ou cemitérios de cidades vizinhas.
Para atender à demanda, antes de pensar na verticalização, a Prefeitura tinha o projeto de construir um novo cemitério no bairro Planalto, na zona Oeste da cidade. O local, que deveria receber até três mil túmulos, nunca chegou a ser oficialmente inaugurado, apesar de o projeto ter sido concluído em 2007. Uma capela e um centro administrativo chegaram a ser erguidos pela Prefeitura, e o terreno foi delimitado, mas nunca houve sepultamentos no local. A inauguração nunca aconteceu porque o cemitério está situado sobre um aquífero. Sem permeabilização do terreno, a utilização foi proibida pela Justiça. A produção do chamado necrochorume – material liberado pelos corpos em decomposição – poderia contaminar todo o lençol freático.
Atualmente, o local que deveria ser o 9º cemitério público da cidade está abandonado e tem servido como espaço para uma ocupação de pessoas sem teto. No terreno, há algumas dezenas de moradias improvisadas, construídas com pedaços de madeira, lonas e placas metálicas.
Contrato com Grupo Vila atende demanda da pandemia
O secretário diz que, com a pandemia da Covid-19, aumentou a demanda por sepultamentos na cidade. Além disso, a crise sanitária exigiu da Semsur a adoção de protocolos especiais para evitar que familiares e funcionários dos cemitérios se contaminem com a Covid-19 durante os enterros. Atualmente, os cemitérios públicos estão fechados para visitação. Os locais só abrem para sepultamentos, e com a presença de no máximo 10 familiares. As cerimônias fúnebres acontecem com rapidez, para evitar que a urna fique exposta durante muito tempo e facilite a contaminação. Além disso, é proibido abrir a urna para as despedidas quando a vítima morreu de Covid-19. O caixão fica lacrado.
Irapoã Nóbrega explica que, por causa da superlotação, apenas famílias que já têm jazigo podem sepultar vítimas da Covid-19 nos cemitérios públicos da cidade. As famílias que não têm jazigo estão sendo encaminhadas para o cemitério Parque da Passagem, na Zona Norte. O cemitério, que é administrado pelo Grupo Vila, está sepultando gratuitamente vítimas da Covid-19 cujas famílias não têm jazigo graças a um convênio firmado com a Prefeitura do Natal. “A pessoa vai ao sepultamento, faz a prece, a oração, e se dirige para casa para evitar aglomerações. Até porque cemitérios possuem um grande potencial de transmissão da Covid-19”, enfatizou Irapoã Nóbrega.
Fonte: Agora RN