A vida de Jacson Fressatto foi espremida por dois sentimentos conflitantes naquele sábado de 2009. De um lado, a alegria: seria pai, pela primeira vez, e de uma menina. De outro, a tristeza: o bebê tinha um problema tão sério que a orientação era abortar.
Ele e a esposa decidiram seguir. Sete meses depois, Laura nasceu. Prematura, viveu por 18 dias. Uma infecção hospitalar a levou, como ocorre com milhares no Brasil. Desesperado, o empresário se embrenhou nas entranhas do hospital. “Eu queria saber quem tinha sido o filho da puta que errou”, diz. Mas, naqueles corredores, conheceu de perto outros problemas e limitações.
Ninguém sai de casa com o objetivo de matar o paciente.
A partir daí, largou a carreira na área de segurança digital, vendeu apartamento, carro, moto e participação na empresa de que era sócio. Juntou dinheiro e investiu R$ 1,5 milhão do próprio bolso para criar uma plataforma de inteligência artificial que indicasse aos médicos quais os pacientes com quadros de infecção. Queria evitar que outros morressem do mal que levou sua filha.
A tecnologia evoluiu e desde o começo de maio é usada para combater o coronavírus. Seu nome não poderia ser outro: Laura. “A Laura continua viva. Só mudou de interface.”
Na prática – Faz cerca de vinte dias que o Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília (DF), ganhou uma funcionária para um serviço diferente: atende os pacientes online, antes mesmo deles chegarem. Com a triagem, ela é responsável por evitar visitas desnecessárias ao hospital —e, consequentemente, aglomerações que são um prato cheio para o coronavírus se espalhar.
“O paciente vai respondendo às perguntas no chat, e o robô identifica qual o risco inerente dessa pessoa”, explica Fressatto. A partir daí, há três possibilidades:
Está com sintomas?
Para quem está sem sintomas e só busca informações, ela compartilha orientações sobre o coronavírus
Tem complicações?
Para quem apresentar sintomas leves, é possível marcar uma consulta à distância com um médico
É grave?
Quem apresenta sintomas agudos é encaminhado imediatamente para o hospital, onde uma equipe médica aguarda pronta para o atendimento
Este tipo de atendimento já acontecia desde 2009, mas o sistema nasceu com outro propósito. Ganhou escala no hospital AC Camargo, para atender pacientes oncológicos, depois passou para mais de 30 centros médicos e agora chega ao HFA por um acordo com o MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação) —o governo federal determinou que o atendimento online é estratégico para combater a disseminação da covid-19.
Segundo o diretor do hospital, general Rui Yutaka, o sistema poderá ser levado às demais regiões do Brasil por meio do ministério e até para o exterior, como por exemplo em regiões de paz, como a que existia no Haiti.
Fonte: UOL