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Covas rasas no cemitério do Caju

Todas as memórias de uma vida deixadas sob 80 centímetros de terra. Diariamente, os corpos de homens e mulheres são enterrados em algumas das 13.300 covas rasas do Cemitério São Francisco Xavier, conhecido popularmente como Cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio.

Lá dentro, num retângulo de 2 metros por 70 centímetros, terminam sonhos e lembranças. Histórias viram apenas um número pintado de preto numa cruz fincada no chão seco. No imaginário da população, as covas rasas representam a desonra à memória de uma pessoa, significam a despersonalização do ente querido, que passa a não ter mais um nome, uma imagem e um lugar para chamar de seu. Ali, sob o pó da terra, vidas ficam para trás.

Hoje, em média, a cada três pessoas enterradas no Caju, uma é em cova rasa — os números deste ano indicam 1.902 sepultamentos entre os 5.820 realizados no total.

Apesar dos altos números, a legislação estabelece o fim das covas rasas até 2025 — que, após 168 anos de uso no cemitério, serão substituídas por gavetas ecológicas, chamadas de jazigos sociais.

Com o tempo, as covas deixaram de ser apenas a morada de indigentes e marginalizados, tradição até o início do século 20. Hoje, tornaram-se a última morada de pessoas que constituíram uma família, que tinham amigos, um emprego. Num cenário de crise econômica, covas rasas custam até 40% a menos do que as gavetas. Mesmo assim, saem por cerca de R$ 2 mil.

Despedida em 30 minutos – Os sepultamentos em cova rasa geralmente são realizados sem velório na capela — que pode custar até R$ 600, de acordo com a Tabela Cemiterial Municipal de 2018, que indica os valores a serem cobrados por cemitérios públicos, como é o caso do Caju, hoje administrado pela empresa Reviver.

Nesses casos, as famílias têm direito a 30 minutos para se despedir do ente querido, numa área onde há quatro bancadas de pedra e tendas azuis.

Ainda segundo os valores estipulados pela legislação, um enterro em cova rasa gera os custos da tarifa de abertura, do transporte interno do corpo, da baixa à sepultura, do fechamento e da vedação da sepultura, de R$ 272,85; da taxa de exumação, de R$ 545,57; e do aluguel da cova, de R$ 50,85 por ano; mais as taxas administrativas e as despesas com o caixão, que varia conforme o modelo e o material de fabricação.

Construído sobre um cemitério de escravos

O Cemitério do Caju é a maior necrópole do Rio de Janeiro e uma das maiores do Brasil, com cerca de 84 mil sepulturas. Foi fundado em 18 de outubro de 1851, bem próximo à extinta Praia de São Cristóvão. No mesmo local, já existia um cemitério de escravos e indigentes desde 1839.

O historiador Milton Teixeira conta que o local surge a partir de um decreto do Imperador Dom Pedro II, proibindo sepultamentos dentro de igrejas. Até então, havia apenas um cemitério nesse contexto, no Castelo, que estava lotado.

Só que a localização do cemitério era distante, a viagem poderia durar quase um dia, o que tirou o prestígio do local promissor.

Foram necessárias diversas mudanças no terreno, ao longo dos anos, para tornar a área pantanosa mais plana e seca. Para os aterros, utilizou-se a terra de um morro que existia ao norte do cemitério. No início, as sepulturas temporárias eram alugadas por sete anos. Mas as famílias também podiam comprar jazigos perpétuos.

Entre as sepulturas do Caju estão a de famosos como: Cartola, Barão do Rio Branco, Noel Rosa e outras personalidades históricas. A sepultura de Tim Maia, foi devastada pelos fãs, que só não levaram o caixão porque não conseguiram. Já o jazigo do traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, morto em 2002, foi metralhado por criminosos em janeiro de 2006.

Fonte: Extra

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