Com gargalo no sistema funerário, Nova York cria necrotérios móveis

A cidade de Nova York, um dos locais mais comprometidos nos Estados Unidos por conta da pandemia do novo coronavírus, montou 45 necrotérios móveis para receber os corpos das vítimas, segundo o New York Times. A medida foi necessária porque as casas funerárias, incluindo as instaladas dentro de hospitais, estão lotadas.

“Quando você sobrecarrega o sistema de saúde, também sobrecarrega o sistema da morte”, disse Patrick J. Kearns, diretor de quatro casas funerárias em Long Island e Queens. “Está levando mais tempo para que os corpos sejam liberados para serem transferidos”. A cidade tem mais de mil mortes por covid-19 registradas até o momento e projeção de outras milhares ainda por ocorrer. Trailers refrigerados estão sendo enviados a hospitais nos cinco distritos para recolher os corpos, e crematórios foram autorizados a trabalhar sem parar. Por enquanto, de acordo com informações oficiais, a cidade não entrou em colapso, como o que foi visto na Itália, onde cadáveres foram colocados em igrejas ou ficaram expostos nas ruas.

Capacidade em necrotérios está abaixo do necessário

Em um dia comum, 158 pessoas morrem, na média, em Nova York, por causas variadas. Com o grande número de mortes ocasionadas pelo coronavírus, o sistema tradicional de retirada de corpos dos hospitais e o encaminhamento para os serviços funerários está radicalmente sob pressão.

“A maioria dos necrotérios nos hospitais só tem capacidade para oito a 12 corpos”, afirma Joe Aievoli, dono de seis casas funerárias no Brooklyn e em Manhattan. “Agora eles têm sido inundados com 30, 40, 50 mortos em um curto período de tempo. Eles simplesmente não têm como estocar”.

Em tempos normais, a rede pública dispõe de espaço para até 900 corpos em suas cinco instalações em toda a cidade, de acordo com a porta-voz Aja Worthy-Davis.

Ela disse que foram comprados os 45 necrotérios móveis para aumentar a capacidade para cerca de 3.500 corpos. Outras 85 unidades frigoríficas devem ser entregues em breve pela Agência Federal de Gerenciamento de Emergências.

As unidades móveis – trailers refrigerados equipados com prateleiras para guardar os cadáveres em sacos plásticos – já foram utilizadas em locais como o Hospital Brookdale, no Brooklyn.

Um médico disse que o fluxo de corpos era tão alto que parecia “uma correia transportadora”. “A prática é manter os corpos nos trailers até que as casas foram sobrecarregadas ou não estão coletando corpos”.

Um dos motivos do gargalo no serviço é que alguns cemitérios reduziram o número de funcionários e as horas de funcionamento em resposta à pandemia, diminuindo o número de corpos enterrados por dia.

O presidente da ABREDIF, Lourival Panhozzi, alertou: “A verdade é que lá as funerárias não retiram o corpo enquanto alguém não se apresenta para pagar o funeral. As famílias por sua vez, por medo ou necessidade, tem retardado está contratação. Isto tem provocado um acúmulo desproporcional no sistema, o que justifica a necessidade da compra de necrotério móveis.

No Brasil a dinâmica é outra. Não temos a cultura de aguardar o melhor momento para tratar o funeral, fazemos isto ato contínuo ao comunicado do óbito. Nossa matriz funerária é totalmente diferente a de outros países, o que faz dela, em uma situação  como esta, estar melhor adequada a necessidade que o momento apresenta”.
Fonte: Uol